Há fotografias que não precisam de explicações. Ficam ali, silenciosas, mas carregadas de significado. A imagem escolhida por Mapi León para ser a capa do post da celebração da conquista da Liga das Nações é uma dessas. Com o troféu na mão e acompanhada por Ingrid Engen.Quem olha com atenção percebe que aquilo não é só um festejo.

Foto: Mapi Leon via Instagram



Mapi vestiu pela última vez a camisola de Espanha no Europeu de 2022, numa altura em que após a competição ela e outras catorze jogadoras decidiram que renunciariam a futuras convocatórias, alegando que as condições e os métodos do então selecionador Jorge Vilda afetavam o seu bem-estar físico e mental.

Três anos afastada. Três anos de luta por direitos, igualdade e condições dignas. Três anos a pagar um preço que poucas teriam coragem de pagar: ficar fora da conquista de um Mundial e de uma Liga das Nações por fidelidade aos próprios valores. Essa renúncia transforma a sua trajetória numa história de coragem e convicção, e o seu regresso à seleção simboliza que mudanças reais aconteceram dentro da própria estrutura da equipa. Isso, por si só, já marca a história do futebol espanhol e, sem dúvida, do futebol feminino internacional.

E nesse tempo todo, Ingrid esteve lá. No Barcelona partilhavam balneário; esta época tornaram-se adversárias também a nível de clubes. Nas seleções, Espanha contra Noruega. Dentro de campo rivais, fora dele um apoio que nunca vacilou. Mapi esteve na Suíça a acompanhar o Europeu da Noruega; Ingrid aproveitou folgas no Lyon para ir a Barcelona vê-la jogar. A distância torna-se apenas geográfica.

Quando Sónia Bermúdez assumiu a seleção nacional espanhola em agosto algo mudou. Na sua primeira convocatória realizada em outubro, o nome que já ninguém esperava regressou: Mapi León. Uma convocatória que fez barulho, porque alegadamente recusara abordagens anteriores feitas por Montse Tomé. Mas desta vez, voltou. E voltou para vencer. O seu primeiro título pela Espanha chega precisamente após o período mais duro da carreira.

Foto: Seleção Espanhola Feminina via X



É por isso que aquela fotografia importa. Porque não é apenas o momento de levantar um troféu. É o reflexo de uma travessia. É a presença de quem esteve ao lado durante os anos de ausência, incerteza e resistência. É a prova de que, mesmo quando o futebol cria fronteiras, existem ligações que sobrevivem a tudo.

No fim, aquela imagem resume o que as palavras tentam acompanhar: o regresso de uma jogadora que fez história e a força discreta de quem caminhou lado a lado com ela nos dias mais duros.

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