Há histórias que se escrevem devagar, à custa de tropeços, derrotas e uma teimosia quase poética. A final da NWSL deste ano foi uma dessas histórias e o Gotham FC, mais uma vez, decidiu ser o herói improvável.

Foto: NWSL via X



Para o lado do Washington Spirit pairava uma nuvem teimosa de déjà vu,voltou a sentir o peso amargo de perder uma final por um único golo. Dois anos seguidos, duas finais escorregadas por entre os dedos. Se no ano passado caiu diante do Orlando, desta vez foi o Gotham a roubar-lhes o fôlego, o sonho e o troféu.

Do outro lado, o Gotham novamente. Dois anos depois do título de 2023, voltou ao topo. Não havia grandiosidade anunciada, nem favoritismo arrogante. Entraram nos playoffs como o oitavo e último classificado, quase a pedir licença para sonhar. Mas às vezes basta isso: licença e coragem.

O início prometia caos. Mal o relógio respirava os primeiros cinco minutos, Esther González colocou a bola no fundo da baliza e metade do estádio levantou-se a pensar que o Gotham abria o marcador num sopro. Mas a bandeira subiu: fora de jogo. Como se alguém tivesse lembrado: Ainda é cedo para milagres

O jogo seguiu tenso, amarrado, com poucas brechas. O Washington tentou criar perigo em três cantos consecutivos aos 67 minutos, mas nada que fizesse tremer a muralha adversária. O Gotham respondeu com lampejos, sobretudo quando Shaw e González combinaram perto do intervalo, obrigando McKeown a um corte salvador que manteve o marcador fechado.

E então, aos 80 minutos, o destino cansou-se de esperar.

Numa jogada que parece ter sido desenhada para virar memória. Bruninha entrou como quem acende uma faísca; arrancou pela esquerda, costurou o espaço e deixou um cruzamento rasteiro a deslizar pela área. Quem apareceu? Rose Lavelle que nunca tinha disputado uma final da NWSL, apesar de tantos anos de estrada e de ser nome grande no futebol norte-americano.

Recebeu como quem sabe o que vem a seguir e disparou de pé esquerdo para o canto que Aubrey Kingsbury não conseguiu alcançar. Um golo que não gritou  suspirou. Mas foi suficiente para coroar o Gotham.

O Spirit ainda teve a derradeira hipótese no terceiro minuto dos descontos. Ann-Katrin Berger falhou um corte, Paige Metayer chegou primeiro… mas o remate saiu torto, como se a bola também soubesse para onde o destino queria ir.

A verdade é que o Gotham viveu estes playoffs como quem desafia a sorte: eliminou o Kansas City Current, líder isolado, com um golo aos 121 minutos; afastou o Orlando Pride na semifinal com outro golo tardio; e agora, perante um estádio cheio em San Jose, fechou o ciclo com toda a serenidade .

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