Há notícias que chegam como quem fecha uma porta devagar. Não fazem barulho, não escandalizam… mas deixam aquele eco incómodo no corredor. A retirada da candidatura portuguesa ao Europeu feminino de 2029 é exatamente isso: um som abafado, mas impossível de ignorar. Um gesto inesperado, ainda que envolto em palavras medidas e diplomacia fina.

A decisão, tomada em concordância com a UEFA, marca uma mudança brusca face ao entusiasmo que a própria FPF vinha alimentando nos últimos meses. A justificação? Concentrar energias na preparação do Mundial de 2030, a ser organizado com Espanha e Marrocos ,um gigante que exige recursos, tempo e, claro, foco absoluto.
No comunicado divulgado, a FPF revela a criação de um Departamento de Futebol Feminino, que promete trabalhar na profissionalização interna da modalidade ao longo dos próximos quatro anos: quadros competitivos reforçados, mais investimento nos clubes, treinadores e jogadoras.
Um plano “ambicioso,bonito, necessário”, pode dizer-me que soa a algo quase poético… e que chega curiosamente no mesmo dia em que se abdica de organizar um dos maiores eventos da modalidade. Ironias do destino?
Enquanto isso, a decisão final sobre quem acolherá o Europeu de 2029 será conhecida a 3 de dezembro o de estão na corrida: Alemanha, Polónia e a candidatura conjunta de Dinamarca e Suécia.
Tudo isto acontece também enquanto a própria Federação celebra o apuramento da Seleção Nacional masculina para o Mundial 2026. É aqui que muitas sobrancelhas se levantam: como pode um país que diz apostar no futebol feminino abdicar de organizar o torneio mais importante da modalidade na Europa?
E então surgem as perguntas que ninguém assinou, mas toda a gente pensa:
Será isto mesmo uma estratégia ponderada ou apenas mais uma oportunidade desperdiçada para dar palco ao futebol feminino? Foi a candidatura um estandarte provisório, útil enquanto convinha ao discurso, mas facilmente arrumado quando se fez peso? E quantas vezes mais se pedirá paciência a uma modalidade que já aprendeu, demasiado cedo, a esperar pela sua vez?
Não há respostas claras talvez porque ainda não existem, talvez porque não convém existirem. Mas ficam as dúvidas, a pairar como aquelas bolas que batem no poste e ficam a rodopiar na linha de golo.
Pode ser que entrem. Pode ser que saiam.
Será coerência estratégica… ou apenas mais uma oportunidade adiada?
Terá sido a candidatura um instrumento de marketing que serviu para alimentar a narrativa do “crescimento do futebol feminino” apenas para, no final, ser deixada cair?






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