Há histórias que nascem num relvado e acabam por mudar muito mais do que o resultado de um jogo.

“#SeAcabó: Diário de las Campeonas” é uma dessas histórias e agora chega ao palco dos Emmy Internacionais 2025, nomeado para Melhor Documentário Desportivo. Uma produção espanhola que disputa o prémio com obras da Argentina, Reino Unido e África do Sul, numa gala marcada para 24 de novembro



Parece que foi ontem, mas já passaram dois anos desde aquele 25 de agosto de 2023, quando Alexia Putellas decidiu que o silêncio não era opção. Bastou um tweet “Se acabo”. Uma frase. Um gesto de apoio a Jenni Hermoso, depois de um beijo forçado que percorreu o mundo inteiro. E assim começou uma onda que ninguém conseguiu travar.

Há um ano atrás, a 1 de novembro de 20224 esse momento tão frágil quanto poderoso transformou-se em cinema. E agora, em reconhecimento internacional.

O documentário mergulha nas entranhas de tudo o que esteve por detrás da conquista espanhola no Mundial de 2023 e da crise que explodiu logo após o apito final. Reúne as vozes de quem viveu cada segundo desse turbilhão: Alexia, Aitana, Irene Paredes, Ivana Andrés, Tere Abelleira e, claro, Jenni Hermoso. Jogadoras que, de peito aberto, decidiram contar como o triunfo desportivo foi manchado por pressões, manipulações e abusos vindos da própria federação.

Porque o beijo foi só a ponta do icebergue. Antes dele, existiam anos de má gestão, desigualdade, silenciamento e desgaste acumulado, o suficiente para que quinze jogadoras abandonassem a seleção em 2022, exigindo respeito e condições dignas. Essas ausências, essas feridas, essas vozes que disseram “basta” tornaram-se o alicerce daquilo que viria a ser a maior conquista do futebol feminino espanhol.

O documentário não é apenas um relato. É uma crónica emotiva sobre coragem coletiva, sobre mulheres que transformaram dor em mudança, sobre a forma como a sociedade espanhola (e o mundo) abriu finalmente os olhos. Há espaço para bastidores, memórias nunca contadas, cicatrizes, afetos e até para quem escolheu não voltar.

Mais do que um filme, é um grito. Um espelho. Uma revolução.

E agora, é também um candidato aos Emmy.

Porque quando um grupo de mulheres decide erguer a voz, não há apitos, federações ou silenciadores capazes de travar o que vem a seguir. É exatamente isso que o documentário celebra: o fim de uma era  e o início de outra.

Porque #SeAcabó… e começou algo maior.

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