
A pressão por resultados transporma o sonho em pesadelo. Em Portugal, cerca de 23% dos adultos mais de 1 em cada 5 pessoas sofrem anualmente de algum tipo de perturbação mental. E esse cenário se repete em todo o mundo: 75% dos transtornos mentais têm início antes dos 25 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre os grupos mais vulneráveis estão os atletas de alta performance, que vivem sob constante cobrança para atingir metas, superar limites e representar nações, clubes e patrocinadores muitas vezes, à custa da própria saúde mental.
Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos modernos, dizia: “O importante não é vencer, mas competir.”
Na prática, no esporte de alto rendimento, vencer é a única opção. Desde cedo, atletas são treinados para suportar dor, manter o foco e eliminar falhas. A cultura da superação constante alimenta vitórias, mas também gera esgotamento físico e emocional.
Pesquisas indicam que até 45% dos atletas de elite apresentam sintomas de transtornos mentais durante a carreira. Entre os problemas mais frequentes estão:
- Ansiedade e ataques de pânico;
- Depressão e risco de suicídio;
- Abuso de álcool e outras substâncias;
- Dependências comportamentais (como jogos e redes sociais);
- Transtornos alimentares;
- Burnout esgotamento extremo, caracterizado por exaustão física, emocional e mental.
A cultura do “aguenta firme” ainda predomina. Muitos atletas escondem o sofrimento por medo de parecerem fracos ou de perderem espaço nas equipes.
Atletas que romperam o silêncio
Nos últimos anos, nomes de peso no esporte mundial começaram a falar abertamente sobre o impacto da pressão e do burnout. Esses testemunhos têm ajudado a mudar a percepção pública sobre o tema.
Simone Biles (Ginástica): Abandonou várias provas nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 para cuidar da saúde mental, citando a incapacidade de lidar com a pressão e o estresse acumulado.
Naomi Osaka (Tênis): Retirou-se de competições importantes e defendeu a importância de priorizar o bem-estar emocional dos atletas.
Gabriel Medina (Surfe): Revelou o desgaste emocional e físico causado pelas cobranças e procurou ajuda profissional para se recuperar.
Flávia Saraiva (Ginástica): Contou ter vivido uma crise de burnout em 2018 devido ao excesso de treinos e pressão.
Rodri e Son Heung-min (Futebol): Manifestaram preocupação com o calendário sobrecarregado, que tem causado lesões e fadiga mental entre jogadores.
Carlos Alcaraz (Tênis): Desistiu do Masters 1000 de Xangai em 2025 devido ao desgaste físico e psicológico, reacendendo o debate sobre o calendário intenso do tênis profissional.
Esses casos mostram que a saúde mental não escolhe modalidade nem medalha, e que o autocuidado é parte essencial da carreira esportiva.

Fonte: Jerome Brouillet/AFP
O papel dos clubes e das federações
Alguns clubes e federações já perceberam que o desempenho depende do equilíbrio mental. Psicólogos desportivos, programas de prevenção e acompanhamento emocional têm sido incluídos em equipes de alto rendimento.
A Federação Portuguesa de Futebol, o Comitê Olímpico do Brasil e outras entidades têm promovido campanhas de consciência sobre saúde mental, embora ainda falte estrutura permanente e diálogo aberto entre técnicos e atletas.
A nova geração de atletas começa a entender que treinar a mente é tão importante quanto treinar o corpo. Falar sobre depressão, ansiedade ou burnout não é sinal de fraqueza, é sinal de coragem. Cuidar da mente é parte do jogo. E talvez a maior vitória de um atleta seja continuar a competir, com equilíbrio e humanidade.







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