Há momentos em que o silêncio pesa mais do que um estádio cheio. E neste verão catalão, esse silêncio não vem da ausência de aplausos, mas sim da ausência de respostas. O FC Barcelona Feminino, símbolo de excelência e inspiração nos relvados da Europa, está a atravessar um momento tão inquietante quanto inexplicável.

Foto:FC Barcelona

Sete jogadoras saíram. Não por milhões, mas por nada. Ingrid Engen, Fridolina Rolfö, Bruna Vilamala, Martina Fernández, Ellie Roebuck, Judit Pujols, Alba Caño. Uma a uma, foram deixando o balneário, deixando também um vazio e em silêncio, todas a custo zero, como se o seu contributo fosse facilmente esquecível. Algumas, pilares da equipa; outras, promessas por cumprir. Mas todas elas parte de uma era vitoriosa. A debandada não foi acompanhada de explicações nem de reposições à altura apenas o vazio crescente de um plantel cada vez mais curto e exposto.

O clube, esse mesmo que se habituou a erguer troféus como quem respira, fez apenas uma contratação: Laia Aleixandri. Uma jogadora de qualidade, sem dúvida, mas solitária numa lista que deveria estar repleta de ambição.

A economia é o vilão apontado. Ironia amarga, quando vemos o futebol masculino do clube continuar a investir milhões em promessas e projetos, enquanto o feminino, que nos últimos anos só tem dado alegrias, é deixado à margem, como se títulos europeus não tivessem peso na balança financeira.

O plantel atual conta apenas com 18 jogadoras. Nove delas têm contrato a terminar em junho de 2026. E o mais preocupante? O clube está disposto a ouvir propostas. Como se a solidez de um império pudesse ser vendida em saldos de verão. Mapi León, Alexia Putellas, Ona Batlle, Claudia Pina, Cata Coll, Caroline Graham Hansen, Jana Fernández, Salma Paralluelo, Marta Torrejón… nomes que valem ouro e que podem, se calhar, ser vendidos ao preço de uma urgência mal gerida.

A base pode vir a subir. Algumas jovens promissoras, até campeãs da Europa de sub-19, darão o salto para o topo. Mas será justo sobrecarregar a juventude com o peso de um legado? Será sensato enfrentar colossos como o OL Lyonnes que se reforça com uma voracidade que assusta, com um plantel remendado e uma estrutura que parece ter perdido o norte?

A verdade é esta: o Barcelona está a correr um risco real de perder a hegemonia no futebol feminino. E não por falta de talento, mas por falta de visão.Num mundo onde o desporto feminino ainda luta por equidade, é triste ver que até quem já provou ser gigante ainda precisa de gritar por respeito.

A temporada que aí vem será, mais do que nunca, um teste à alma das jogadoras, à resiliência do grupo e, acima de tudo, à memória de quem dirige o clube. Porque a grandeza não se mede apenas em troféus. Mede-se em decisões. E, neste momento, o silêncio do Barcelona pode custar caro.

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