Há finais que não se apagam com o tempo. Que se cravam na pele como tatuagens feitas a sangue e suor. A de ontem foi uma dessas. Espanha, a seleção que ousou desafiar o impossível, caiu no momento mais cruel, os penáltis, esse teatro implacável onde o talento se curva, por vezes, à sorte cega.

Foto: RFEF

Elas chegaram longe. Muito longe. A um suspiro da glória. São campeãs do mundo, levantaram a Liga das Nações e ficaram em 4° nos Jogos Olímpicos. Agora, pela primeira vez, tocaram com os dedos uma final europeia. O título escapou, sim. Mas não a grandeza.

Esta seleção não é só futebol. É reinvenção, resiliência e agora, depois de muito, união. Um grupo onde habitam as melhores do mundo.Há um ano, em Paris, caíram com escolhas técnicas que traíram o potencial de quem estava em campo. E ontem… ontem o déjà vu voltou com força. Porque há decisões que parecem não querer aprender com o passado.

Alexia não estava no seu auge, como esteve na fase de grupos, é verdade.Mas tirá-la cedo demais foi como arrancar o coração a meio da batalha. O meio-campo perdeu alma, perdeu norte. E com isso, perdeu-se o controlo. É fácil julgar depois, mas a sensação de “já vimos este filme” é amarga demais para ignorar.

Ainda assim, erros fazem parte. O problema é quando os erros se repetem, como se ninguém os tivesse escutado da primeira vez. E esta dor tem um sabor especial, o sabor do “quase”. Do “estava nas nossas mãos”

Mas não há vergonha em cair de pé. Espanha perdeu, sim. Mas não se rendeu. Lutou até à última gota de força. E mostrou ao mundo o que é dignidade: Irene beijou a medalha de prata como se fosse ouro. Aitana mostrou-a à câmara com orgulho da medelha que carregava.Nenhuma jogadora a tirou do pescoço, mesmo com o coração em cacos.

Isso é entender o desporto. Isso é ter honra.

Agora, viram a página. Ainda há Liga das Nações. Ainda há batalhas por travar. E se há algo que esta geração sabe fazer, é levantar-se. Porque “La Roja” não se mede apenas em títulos,mede-se em coragem, em caráter e na certeza de que, mesmo com as mãos vazias, continuam gigantes.

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