Dizem que os relâmpagos não caem duas vezes no mesmo lugar. Chloe Kelly parece não acreditar nisso. Em 2022, escreveu com os pés o capítulo mais dourado da história do futebol feminino inglês.

Três anos depois, regressou ao papel principal com a mesma frieza, com a mesma coragem, com a mesma pontaria de lenda.Inglaterra é bicampeã da Europa. Mas esta não é só mais uma conquista. Esta é a história de uma equipa que, tal como nas grandes narrativas de superação, caiu, levantou-se, sofreu… e no fim, venceu. Com o coração nas botas e a alma no peito.
A caminhada começou com um tropeço e que tropeço. Derrota diante da França logo a abrir. Um golpe duro, um abanão necessário. Mas não era o fim, apenas o começo de uma montanha-russa emocional. As vitórias frente ao País de Gales e aos Países Baixos permitiram às Lionesses seguir em frente, ainda que em segundo lugar no grupo. Não eram favoritas, mas eram perigosas. E sabiam disso.
Nos quartos-de-final, a Suécia parecia ter dado xeque-mate. Dois golos à frente até aos 79 minutos. Parecia feito. Mas não se mata uma leoa sem lutar. Lucy reduziu. Dois minutos depois, Agyemang empatou. O jogo virou drama. A decisão foi para grandes penalidades ,e o drama virou épico. Dos 14 penáltis cobrados, 9 foram falhados. Um desfile de nervos e desespero. A Inglaterra levou a melhor, 3-2. Sobreviveu.
Na meia-final contra a Itália, o guião repetiu-se: desvantagem ao intervalo, esperança no fim. Agyemang, com frieza fez o 1-1 aos 90+6. Prolongamento. E aos 118 minutos, Chloe Kelly voltou a aparecer. Um golo que não foi só o bilhete para a final, foi uma carta de amor ao futebol de quem nunca desiste.
A final contra a Espanha foi, mais uma vez, um espelho da resiliência inglesa. Ao intervalo, derrota. Aos 57, Alessia Russo empatou e reabriu o livro da esperança. Mais 90 minutos de luta, mais 30 de tensão, até o jogo decidir-se no lugar mais cruel a marca dos onze metros.A Espanha, que brilhou durante todo o torneio, que marcou golos com arte e chegou à sua primeira final de um Europeu, voltou a cair no mesmo obstáculo: a frieza das grandes penalidades. Três falhadas. A Inglaterra, mesmo tremendo, marcou três. E a última? A última foi da mulher que parece talhada para finais: Chloe Kelly. Um remate. Um grito. Um novo título. A mesma heroína.
E assim se faz história.De 2022 a 2025, Chloe Kelly tornou-se o rosto da consagração inglesa. Uma jogadora que já não pertence apenas à sua geração, pertence aos livros, às crónicas, aos sonhos das futuras Lionesses.
A Espanha fica com o orgulho de uma campanha brilhante, de ter encantado, de ter chegado onde nunca tinha chegado. Mas a coroa, essa, permanece em Londres. E quem a segura é Kelly. Com a classe das rainhas. Com a alma de uma guerreira.





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