Há despedidas que não se dizem. Sentem-se. E há silêncios que ecoam mais alto do que mil gritos de golo. Isabel Silva, ou simplesmente Belinha, não precisou de uma conferência de imprensa nem de uma volta olímpica para nos avisar que o jogo tinha chegado ao fim.

Foto: Vitoria

Aos 34 anos, pendura as chuteiras com a mesma elegância com que desarmava avançadas em campo: sem espalhafato, mas com firmeza e coração.Belinha nasceu em Felgueiras, mas o futebol foi sempre o país onde verdadeiramente habitou.

Começou a dar os primeiros toques no clube da terra, o FC Felgueiras, onde trocou bonecas por chuteiras e fez da relva o seu recreio favorito. Ainda era uma miúda quando se estreou nas seniores, mas já se via que dentro daquela defesa havia mais do que músculo havia alma.

Depois, veio o Boavista. Nove épocas a vestir de xadrez, a levantar poeira nos treinos e uma Taça de Portugal nas mãos, na época 2012/2013. Foi nesse clube histórico que deixou de ser apenas Belinha, a rapariga que jogava bem, e passou a ser Belinha, a referência. Seguiram-se passagens por Ovarense, Valadares Gaia e Feirense sempre com a mesma entrega, com a mesma calma de quem sabe que liderar é mais do que gritar: é estar. Sempre.

Em 2022, o Vitória SC cruzou-se com a sua história. E foi amor à primeira entrada de carrinho. Em duas épocas, Belinha somou 75 jogos, incontáveis cortes decisivos e, sobretudo, um legado de garra, união e liderança silenciosa. A cereja no topo do bolo? A conquista da II Divisão Nacional e a tão desejada subida à Liga BPI. Sai em alta. Sai campeã. Sai… eterna.

Belinha não é apenas uma jogadora que se despede. É um símbolo de tudo o que o futebol feminino ainda está a aprender a valorizar: lealdade, sacrifício, paixão. Não teve capas de revista, mas teve mãos cheias de suor. Não brilhou sob holofotes, mas iluminou balneários inteiros.

Hoje, o futebol perde uma jogadora. Mas ganha uma história. Uma daquelas que se contam aos mais novos, para que percebam que ser grande não é ter milhões de seguidores, mas sim milhares de memórias deixadas nos corações de quem partilhou o relvado contigo.Obrigada, Belinha. O jogo continua, mas há lendas que nunca abandonam o campo.

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