Chegámos à Suíça com sonhos na bagagem e esperança no peito.

Tínhamos o talento, a garra e a ambição de quem acredita que pode fazer história. Mas rapidamente percebemos que, neste Europeu, a realidade ia escrever um enredo bem diferente.

Portugal caiu cedo. Caiu sem brilho, sem rumo, sem surpresa. As jogadoras entraram em campo com vontade, disso ninguém duvida. Mas a seleção parecia um aluno apanhado desprevenido no dia do exame: sem estratégia, sem preparação, sem nervo para enfrentar adversárias que já conhecíamos de cor e salteado Espanha e Bélgica, rivais da Liga das Nações.

Logo na estreia, a goleada frente às espanholas foi um murro no estômago. A ingenuidade defensiva e a apatia tática foram gritantes. Começámos o Europeu com o pé esquerdo… e tropeçámos logo de cara.

No segundo jogo, frente a uma Itália pragmática, ainda houve lampejos de esperança. Aguentámos durante 70 minutos. E quando tudo parecia perdido, Diana Gomes acendeu uma luz ao cair do pano. Um golo que nos fez sonhar, mas que não chegou para esconder a realidade: o destino já não dependia apenas de nós.

Na derradeira jornada, frente à Bélgica, Portugal entrou a perder… aos três minutos. A reação foi digna, dominámos, criámos oportunidades, pressionámos. Mas, como tantas vezes, não finalizámos. E no futebol, quem não marca… sofre. Sofremos mais, mesmo com dois golos belgas anulados. A sensação era a mesma: bastava um erro, uma desatenção, uma bola mal aliviada e tudo desabava outra vez.

E neste Europeu confirmou-se algo que já vínhamos a sussurrar: a dupla Diana Silva e Jéssica Silva, com todo o respeito e sem desmerecer as jogadoras que são, está longe de corresponder às expectativas. Em jogos decisivos, o ataque mostrou-se ineficaz, repetitivo, sem ideias. Mas, curiosamente, continuam a ser apostas recorrentes.

E o banco, esse, parece não merecer confiança.Beatriz “Meio Metro” e Telma Encarnação que entram sempre com alma e impacto mal tiveram minutos. Lúcia Alves, desequilibradora nata, somou apenas 45 minutos. Andreia Jacinto e Ana Seiça, duas das poucas que trazem frescura e intensidade, quase nem aqueceram. Quem explica isto?

Não é uma questão de talento. Portugal tem jogadoras com qualidade. Mas falta liderança. Falta coragem. Falta ousadia nas decisões técnicas. Francisco Neto, a quem devemos respeito pelos 11 anos de dedicação, parece preso a uma lógica de gratidão que já não serve o futebol de alta competição. Jogadoras fora das suas posições, veteranas que já não rendem o mesmo e jovens em grande forma que ficam em casa , como é que se explica isto?

Precisamos de renovação. Não só no plantel, mas no pensamento. Precisamos de alguém que arrisque, que veja mais além do “sempre foi assim”. Portugal tem talento de sobra. Falta é saber aproveitá-lo com inteligência.

As jogadoras merecem o nosso aplauso. Deram o que tinham, lutaram até ao fim, e carregaram a camisola com orgulho. Saem de cabeça erguida. Mas o mesmo não se pode dizer da estrutura que as dirige.Este Europeu deixa-nos uma certeza amarga: Portugal continua a mostrar uma imaturidade competitiva preocupante.

Há qualidade individual, sim, mas falta uma ideia coletiva. Falta projeto. Falta exigência. Falta evolução.Saímos com um ponto arrancado a ferros frente à Itália, celebrado como se fosse apuramento. Mas foi apenas um disfarce para uma dura realidade: este grupo estagnou.

Chega de adiar o futuro. Que esta eliminação seja um ponto de viragem e não mais uma nota de rodapé esquecida na história do futebol feminino português.

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