Na final do Mundial, o momento era de glória. Espanha erguia a taça, e no meio do delírio, Luis Rubiales agarra Jenni Hermoso e beija-a na boca. Não pediu. Não perguntou. Só fez.Foi um beijo que não era dele. Um gesto que deveria ser celebração, tornou-se cicatriz.

Aconteceu em agosto de 2023.A condenação só chegou em fevereiro de 2025, e hoje em Junho o ponto final.
Era fevereiro. Um daqueles meses em que a Europa ainda desperta lentamente pelo frio que se fazia sentir, mas no tribunal espanhol, o calor da indignação já fervia.Luis Rubiales, o ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol, viu-se finalmente a ser julgado, após um ano e meio.
Não irá pagar com a dignidade que negou a Jenni Hermoso. Pagará com euros: 10.800, para ser exato. Uma quantia que, para muitos, nem sequer cobre o custo emocional do que aconteceu naquele dia, no palco dourado da final do Mundial de 2023.
Rubiales recorreu.Queria limpar o nome. Mas o tribunal hoje, 4 meses depois, rejeitou o apelo e confirmou: o beijo foi agressão sexual. Sem rodeios, sem desculpas. Não houve consentimento. Houve imposição. Um gesto que deveria ser celebração tornou-se símbolo de tudo o que o desporto feminino ainda enfrenta e do que se cala
Sim, dez mil e oitocentos euros.
O que, para muitos, nem chega a castigo.
Para quem sempre viveu no topo, é troco.
Para quem sofreu na pele, é insulto.
E o mais grave?Não é o beijo. É o que veio depois.As pressões. As tentativas de calar Jenni. As mensagens, os telefonemas, os rostos fechados dentro da federação.
Tudo acabou por vir à tona num documentário lançado no final do ano passado e nas declarações das testemunhas feitas com coragem, como existiu uma tentativa de manipulação.E mesmo assim, a justiça olhou e disse: coação? Não houve.
Rubiales foi ilibado dessa parte.Como se o abuso de poder não tivesse deixado marcas.Como se a violência só contasse se for visível ao olho nu.A sentença confirmou o beijo como crime. Um passo importante. Mas que justiça é esta, que reconhece agressão e responde com uma multa que não compra sequer muitos relógios de luxo iguais aos que o próprio Rubiales alegadamente dava à seleção masculina?
Há coisas que não se pagam.E há decisões que, mesmo sendo legais, soam demasiado pequenas.
Jenni Hermoso resistiu. Falou. Enfrentou.E nós? Vamos continuar a chamar “polémica” ao que foi violência?
Porque o que está em causa nunca foi só um beijo. É o poder de um homem que se sentiu intocável e o silêncio de um sistema que quase o deixou ser. Quando a justiça chega tarde, custa a acreditar que seja justiça. E quando chega com um preço tão baixo, o que nos pergunta é: quanto vale, afinal, a dignidade de uma mulher?
Fica um sentimento agridoce porque a justiça chegou tarde e ficou aquém mas chegou. E que a coragem de Jenni sirva de farol, para que nenhuma jogadora volte a calar-se quando for vítima. Que nunca mais se confundam medalhas com consentimento.





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