De Coração na Bota: As Guerreiras Que Fizeram Portugal Sonhar

Há derrotas que não sabem a fracasso. Há quedas que nos levantam. E há equipas que, mesmo fora da final, entram na história.

Foto:FPF

O jogo de hoje, entre Portugal e França nas meias-finais do Europeu Feminino Sub-19, foi tudo isso. Uma epopeia de coragem, talento e alma portuguesa, ainda que o resultado final, um 4-3 doloroso no prolongamento, tenha fechado a cortina sobre o nosso sonho europeu.Mas que sonho bonito foi este.Um início em silêncio. Um final com o país em pé.

Na fria Stalowa Wola, na Polónia, o marcador parecia cruel e precoce: antes do relógio marcar o quarto de hora, Portugal já perdia por dois. Os fantasmas de dezembro, quando a França nos cilindrou por 4-0, ameaçavam regressar. Mas estas miúdas já não são as mesmas.

Cresceram, aprenderam, endureceram.São agora jogadoras de corpo inteiro, com um coração maior do que a relva que pisam.A resposta foi imediata, visceral, imensa. Marta Gago entrou para mudar o rumo, e mudou. Marcou de penálti, inflamou as bancadas, e devolveu à Seleção a chama que a França tentou apagar cedo demais.De igual para igual com as campeãs.

A segunda parte trouxe o Portugal que todos queremos ver: dominador, destemido, com uma maturidade impressionante. Lara Martins, ao minuto 74, cabeceou esperança para dentro da baliza e arrancou o prolongamento de um jogo que já era, por esta altura, uma das melhores exibições da nossa história recente.

As francesas voltaram a adiantar-se. Mas Portugal…ah, Portugal! não baixou os braços. Diana Costa, com um remate de levantar estádios, empatou aos 105+2 minutos e fez-nos acreditar. A assistência de Marta Gago foi poesia. O golo, arte pura. A garra, genuinamente nossa.Só que o futebol também sabe ser cruel.

Aos 113 minutos, uma grande penalidade caiu como um raio em céu quase limpo. Mendy marcou.

Portugal caiu de pé.

Mais do que um resultado: uma mensagem. Perder assim custa. Mas o que vimos nesta caminhada é muito mais valioso que uma taça. Esta geração venceu a Inglaterra com goleada, calou os Países Baixos, ombreou com a Espanha, empurrou a França até aos limites. Mas, acima de tudo, estas jogadoras mostraram-nos o que é jogar por Portugal.

Mostraram-nos que a camisola não é só pano. É pele. É alma. É voz.

O amanhã começa hoje, Marisa Gomes e as suas comandadas já gravaram os seus nomes na história. Pela primeira vez, Portugal vai disputar um Mundial Sub-20 feminino. Está garantido.

E está garantido, também, que o futuro do nosso futebol está em boas mãos ou melhor, em bons pés.

Por isso, hoje, Portugal não chora. Aplaude.Aplaude de pé estas jovens mulheres que nos representaram com orgulho, com suor, com tudo.

Obrigado por cada golo, por cada lágrima, por cada corrida até à última gota de energia.

Vocês não foram só uma equipa. Foram uma inspiração.E se o futuro ainda não chegou, ontem ficámos a saber que ele vem aí… a correr com a camisola das Quinas vestida.

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