Francisco Neto revelou recentemente a pré-convocatória para o Europeu feminino deste verão na Suíça. Entre regressos esperados e nomes já familiares, um silêncio soou mais alto do que qualquer anúncio: Ana Dias ficou de fora. E não foi por lesão, nem por questões disciplinares. Foi… por “escolha técnica”.

Ana Dias, avançada portuguesa a brilhar no futebol mexicano ao serviço dos Tigres, não só foi a melhor marcadora Champions Cup da CONCACAF, com quatro golos e duas assistências em cinco jogos, como tem mantido um nível altíssimo durante toda a época.

Em 39 partidas pelo clube, somou 11 golos e duas assistências. Tudo isto sem os holofotes da Europa, mas com a garra que tantas vezes falta a quem joga com o conforto do costume.

Então o que justifica esta ausência? Uma questão de estilo de jogo? Perfil tático? Ou apenas mais um exemplo de como a Seleção Nacional Feminina parece ter estagnado desde o Mundial de 2023?

Ana, recorde-se, tem estado presente na maioria das convocatórias nos últimos tempos. Mas é chamada para quê, afinal? Para aquecer o banco? Para ser um nome numa lista? Porque minutos… esses têm sido escassos. E agora, nem o nome consta.

É difícil não questionar: que espaço há, nesta Seleção, para quem ousa sonhar fora do padrão? Que espaço há para o risco, para a renovação, para as jogadoras que, mesmo longe dos holofotes europeus, estão a escrever páginas brilhantes da sua carreira?

A verdade é que o “grupo do Mundial” deu frutos, mas desde então parece que a árvore deixou de crescer. Francisco Neto mostra-se fiel às suas escolhas ,demasiado fiel, talvez. E essa fidelidade começa a parecer medo. Medo de arriscar. Medo de mudar. Medo de dizer adeus a quem já deu muito, mas já deu o que tinha a dar.

Não se trata de desrespeitar quem fez história. Trata-se de perceber que a história não se repete sem renovação. O futebol feminino português precisa de sangue novo, de ideias frescas, de coragem para apostar em quem está a brilhar, seja em Lisboa ou em Monterrey.Até ao dia 25 de junho, quatro nomes ainda vão cair da lista. Mas conhecendo o histórico do selecionador, arriscamos a prever que serão sempre os mesmos a sair, os jovens, os “menos testados”, os que não fazem parte do núcleo duro.

Enquanto isso, Ana Dias, uma das nossas melhores avançadas da atualidade, vai ver o Europeu do sofá. E Portugal segue viagem com a mesma fórmula de sempre, à espera de resultados diferentes.Chegou a hora de fazer mais do que agradecer às que nos trouxeram até aqui. Chegou a hora de abrir espaço para as que podem levar-nos mais longe.

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