Por muito que nos custe, há momentos em que a gratidão tem de dar lugar à ambição. Francisco Neto está há mais de uma década à frente da Seleção Nacional feminina. Chegou em 2014, com um projeto arrojado e uma vontade clara de elevar Portugal aos grandes palcos. E fê-lo.

Pela primeira vez, fomos habituados a ver as navegadoras em fases finais de Europeus. Em 2023, fizemos história com a estreia num Mundial. Entre dezembro de 2023 e abril de 2025, vivemos uma travessia dourada: nenhum jogo perdido, apuramento garantido para o Euro 2025, subida à Liga A da Liga das Nações. Marcámos 34 golos, sofremos apenas 8. Invencíveis. Era o sonho, e parecia que o sonho continuaria.

Mas os ventos mudaram. E quando o mar começa a agitar, percebe-se se o leme continua firme. Três derrotas consecutivas, 17 golos sofridos, apenas três marcados. Um descalabro. Mais do que números, são sinais. Algo não está bem e não é só em campo.

O que se vê é uma seleção presa a uma receita gasta. As mesmas convocatórias, o mesmo onze, as mesmas substituições ,jogo após jogo. Como se o relógio tivesse parado no auge. E enquanto isso, talentos florescem por toda a parte. Jogadoras com épocas notáveis nos seus clubes continuam a ser ignoradas. Beatriz Cameirão? Fica em casa. Ana Dias e Stephanie Ribeiro, as melhores marcadoras do campeonato mexicano, convocadas, sim, mas sem minutos. Que sentido faz?

O problema não é apenas de resultados. É de visão. De coragem. De vontade de arriscar. Portugal tem uma geração a despontar. Talento não falta. O que falta é frescura. Ideias novas. Um projeto que olhe para o futuro com olhos de ver, e não com receio de mexer.Estamos às portas de mais um Europeu. E vamos continuar a repetir a fórmula, esperando milagres? Ou vamos ousar mudar, dar espaço a quem merece e reconquistar o entusiasmo de um país que quer ver a sua seleção a lutar de igual para igual?

A questão que se impõe já não é “se” Francisco Neto deve continuar. A pergunta, cada vez mais, é: porquê continuar, se já não estamos a avançar?

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