Uma camisola, um currículo, uma causa: a última jogada de Alia Guagni em campo foi pelo futuro de todas as jogadoras.

No Dia da Mãe, em vez de flores ou discursos emocionados, Alia Guagni optou por uma mensagem silenciosa, mas impossível de ignorar.Na sua última partida como futebolista profissional, a lendária defesa italiana entrou em campo com algo inédito estampado no peito: o seu currículo. Não era merchandising. Era um grito por visibilidade, um apelo por mudança.
Guagni, que brilhou com a camisola da Fiorentina, venceu títulos, foi eleita a melhor jogadora da Série A e representou a seleção italiana em mais de uma centena de jogos, decidiu pendurar as chuteiras… e vestir a verdade. A verdade de que, quando a carreira termina, muitas jogadoras são deixadas sozinhas a procurar o próximo passo ,sem apoio, sem plano, sem rede.
A iniciativa não foi um ato isolado. Foi pensada em parceria com o FC Como Women e a agência criativa LePub. Juntos, lançaram uma campanha que ultrapassa o desporto: o projeto “Beyond”, criado para preparar as atletas para a vida além do futebol. E deram um passo ainda mais ousado ,o clube comprometeu-se a aceitar apenas patrocinadores que se disponham a contratar jogadoras após o fim das suas carreiras nos relvados.
“Não sou de procurar os holofotes”, confessou Guagni. “Mas há momentos em que o silêncio é cúmplice. E este é um deles.”
Na sua camisola, não havia frases de efeito, nem números de golos ou assistências. Havia história. A sua. Transformada num apelo visual, humano e urgente: o que acontece quando o apito final soa e os refletores se apagam?
Aos 37 anos, Guagni despede-se dos relvados com uma vitória por 3-1 frente ao Napoli e uma nova missão: ser mãe e ser voz. A sua camisola foi muito mais do que um uniforme. Foi um manifesto costurado a linha reta , e reta foi também a sua intenção: abrir caminho para que as futuras gerações de jogadoras não tenham de escolher entre o sonho de jogar e a segurança de um futuro.
Num desporto onde o masculino continua a dominar os grandes patrocínios e as oportunidades pós-carreira, esta ação do FC Como Women é revolucionária. Traz para o centro da discussão o que muitas vezes é esquecido: que a igualdade no desporto não termina no apito final, começa aí.
A camisola-currículo de Guagni é uma lição de liderança silenciosa, um símbolo de coragem e de transição. Mostra que o futebol feminino tem algo que o torna único: a capacidade de usar cada espaço, até o mais inesperado, como palco para transformação social.
Alia Guagni saiu de campo pela última vez não apenas como uma campeã, mas como uma pioneira. Porque um legado não se mede apenas em troféus, mas na forma como se abre portas para os outros.






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